Miopia Política: a arte de pensar pequeno em nome da moralidade de fachada.

Investir em articulação política não é gasto — é estratégia para garantir recursos, influência e crescimento para Rio do Sul.
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Anderson Oliveira

Anderson Oliveira

No debate sobre o uso de diárias de viagem pelos vereadores, é urgente abandonar análises superficiais feitas apenas para conquistar curtidas nas redes sociais. Precisamos olhar além das aparências e entender os impactos de longo prazo das decisões tomadas hoje. Em comunicação, chamamos esse erro de “Miopia de Marketing”: enxergar apenas o custo imediato, ignorando o retorno estratégico e duradouro que certos investimentos podem proporcionar.

Muita gente fala sobre as diferenças entre a gestão pública e privada e os comparativos sobre eficácia entre cada uma delas, que devemos usar os bons exemplos da iniciativa privada e trazer para a gestão pública de forma a torná-la mais eficaz e eu acredito muito nisso. Mas, na hora que temos a oportunidade de fazer isso, muita gente não enxerga além do próprio nariz e defende ideias que impedem nossa cidade de adquirir o protagonismo político necessário para resolver os problemas que afetam todos nós como cidadãos.

Imagine que você é dono de uma empresa metal-mecânica, como muitas que temos aqui em nossa região, e recebe um convite para participar de uma grande feira do setor, como, por exemplo, a Automec, que aconteceu recentemente em São Paulo. A Feira é uma das maiores do mundo e a oportunidade de visibilidade e geração de oportunidades de negócio e crescimento para sua empresa é inquestionável. Você cogita ter um estande da sua empresa lá e começa a solicitar os orçamentos para tal, mas ao receber o retorno dos seus fornecedores com os custos para esta ação e marketing, toma um susto, percebe que os valores são altos e opta por não participar.

Dias mais tarde você fica sabendo que duas empresas concorrentes suas resolvem “arriscar” de investir este valor. Talvez sua primeira reação seja pensar que eles são burros, que não deveriam gastar este valor em algo sem ter a certeza do retorno, que os representantes deles vão aproveitar a viagem para se divertir ao invés de fechar negócios e que sua decisão de economizar este valor para “usar em outras coisas” foi muito mais acertada.

Entretanto, no longo prazo, seus concorrentes começam a fechar muito mais negócios que você. Os produtos deles começam a aparecer mais na mídia. Seus clientes, que antes nem conheciam seus concorrentes, hoje recebem visitas constantes dos representantes deles e as vendas da sua empresa, que antes davam uma boa saúde financeira e lucratividade, já não apresentam mais números tão satisfatórios como em outros tempos.

Ao vender menos, seu faturamento diminui, seu fluxo de caixa sofre as consequências e administrar os problemas do dia a dia se complica. Você precisa cortar custos e talvez tenha que trocar fornecedores, demitir funcionários e aquela empresa, que antes se destacava no setor, já começa a perder força para aquelas duas marcas que ninguém conhecia, mas que se “arriscaram” ao investir o valor que você considerou um absurdo e um erro administrativo.

A lógica das diárias dos vereadores é a mesma. Em uma reflexão apressada, os custos podem parecer um “gasto absurdo” e um “desrespeito” com o dinheiro público para os vereadores viajarem às nossas custas. Porém, no longo prazo, isso se transforma no citado no exemplo acima: é preciso investir para ganhar, é preciso marcar território, bater na porta dos deputados estaduais e federais para trazer os valores das emendas para nossa cidade. Porque se nós não fizermos isso, outras cidades farão e com os recursos que recebem, elas prosperam, elas melhoram a vida dos seus cidadãos, elas atraem empresas, geram empregos e crescem. Enquanto isso, nossa Rio do Sul segue sem a força política que deveria ter como maior cidade do Alto Vale e representante maior de uma das regiões que mais sofre com as cheias, mas que não recebe o valor que merece e, politicamente, segue sofrendo com isso.

Alguns menos atentos podem dizer que se continuarmos a fazer o mesmo, não teremos novos resultados. Até poderíamos concordar com este pensamento, mas, a questão é que SC segue sendo um dos estados cujo retorno em comparação com o que gera em riquezas é ínfimo e se não tivermos acesso às emendas de deputados estaduais e federais, as chances de termos nossos problemas resolvidos diminuem ainda mais, enquanto a “concorrência”, ou seja, os outros municípios, que já investem este valor nas diárias de seus vereadores, seguirão recebendo polpudas verbas enquanto nós ficaremos a ver navios.

Claro e óbvio que fiscalizar e cobrar que este direito seja usado de forma correta e justa é obrigação não só da Câmara de Vereadores, mas de toda a população, da mesma forma que um dono de empresa ao investir no marketing de sua empresa, fiscaliza cada real gasto e o retorno deste dinheiro. Trabalhar para mudar o atual regime tributário e o pacto federativo, de forma que nosso estado fique com todo a riqueza que produz é de extrema importância. Entretanto, enquanto o sistema vigente for este, seguir pensando apenas em “não gastar” para poder posar de paladino da razão nas redes sociais, só vai fazer com que nossa Rio do Sul tenha o mesmo destino da empresa que optou por não participar da feira e foi engolida pela concorrência.

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