Em entrevista: Gerri Consoli e as ações de mitigação das cheias no Alto Vale

Gerri Consoli destacou que tanto Blumenau quanto o Alto Vale enfrentam cheias, mas com diferentes avanços. Segundo ele, o governo Jorginho Mello busca acelerar obras de prevenção.
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Jéssica D. Strelow

Jéssica D. Strelow

Entrevista Jornal Alto Vale Alerta com empresário e ex suplente de deputado Gerri Consoli

ALTO VALE ALERTA: Gerri, muitos dizem que a questão das enchentes no Alto Vale é tratada como um problema secundário em comparação com Blumenau. O senhor acredita que existe uma priorização política que desfavorece o Alto Vale do Itajaí?

GERRI CONSOLI: Olha, eu não diria que as enchentes no Alto Vale são tratadas como um problema ou tema secundário em comparação a Blumenau. Sempre foram tratadas com o mesmo grau de importância, porém trabalhando de forma isolada, cada região usa a força política que tem para evolução das obras de diminuição do impacto das cheias. A região de Blumenau por certo sempre teve mais força política, trabalha para fazer os seus melhoramentos e também age para que não haja construção, por exemplo, do canal extravaso de Salto pilão. Então, o Alto Vale do Itajaí não teve força política o suficiente para pautar isso e fazer com que essas obras saíssem do papel e ocorressem as melhorias necessárias, eu não creio que o estado trata uma região ou outra com prioridade, mas creio que, cada região, usou politicamente a sua força para se proteger. No caso de Blumenau, a cidade evoluiu muito mais com os melhoramentos fluviais e também sempre trabalhou sendo oposição à construção do canal extravasor por exemplo.
Entretanto, hoje em dia o que se vê é um esforço enorme do governo do estado do Governador Jorginho Mello para retirar obras importantes do papel, mesmo assim, antes do governador determinar a construção dessas obras, recentemente se viu movimentações políticas, por exemplo, de personagens que são contrários à construção das mini barragens. Nós respeitamos o posicionamento de alguns prefeitos que temem e muito disso vai ao encontro do que Blumenau pensa, que construir uma mini barragem dentro do perímetro do seu município colocaria o município em risco. Então vamos estudar uma nova alternativa, a gente respeita. Blumenau também pensa que o canal extravaso não vai dar o controle adequado do fluxo da água e possa encher Blumenau d’água, então informações equivocadas, maldosas que foram repassadas e fazem com que haja um trabalho, um esforço político de bastidor para que essas obras não ocorram.
Atualmente há de se reconhecer que o governo do Estado tem passado por cima disso e tem procurado entregar para população o maior volume de obras possíveis para que realmente se tenham resultados

ALTO VALE ALERTA: Em sua visão, quais interesses econômicos e políticos estão por trás da resistência a grandes obras estruturantes, como o canal extravasor em Salto Pilão?

GERRI CONSOLI: Falar de interesse econômico é um pouco delicado, por mais que, no momento de catástrofe, a gente ouça o desabafo da população que diga que deve haver algum interesse de alguém querendo vender algo, lucrando, de alguma forma, com a desgraça dos outros. Eu não acredito que haja interesse comercial em cima da catástrofe, da desgraça.
O interesse político é por parte daqueles que não sofrem com a enchente, que não têm a água dentro de casa e que, no momento em que a catástrofe chega, acreditam que gravar um vídeo, dar um “tchauzinho” ou dizer que “estamos juntos” é o suficiente para diminuir o sofrimento do nosso povo.
O interesse político é daquele personagem que não quer perder seus votos, ou que quer aumentar a sua votação na sua região. Como eu falei anteriormente, de forma equivocada e maldosa, foi espalhada uma informação de que as grandes obras prejudicam os municípios. Então, esse personagem político, em defesa da opinião da população, da sociedade da sua região, se posiciona contrário a essas obras, porque quer continuar com a sua arrecadação de votos.
E isso é muito ruim para o processo, foi muito ruim para o processo. É por isso que nós temos que ter cuidado na hora de escolher os nossos representantes, para que eles entreguem realmente resultados quando falamos de grandes obras, e não somente apareçam dizendo que são favoráveis à que elas aconteçam. Há de se medir o histórico de dedicação e o histórico de posicionamento desses personagens políticos.

ALTO VALE ALERTA: O governo estadual tem anunciado ações como a limpeza dos rios e a manutenção das barragens. O senhor considera essas medidas eficazes?

GERRI CONSOLI: Sem a menor sombra de dúvidas, a manutenção das barragens é muito eficaz no controle do volume de água dentro das cidades situadas abaixo delas. Um passado recente mostrou que a má operação das barragens, seja por equívocos na operação, seja por falhas decorrentes da falta de manutenção, foi um complicador e fez com que as cidades tivessem, pelo menos, um metro e meio a mais de água dentro do seu perímetro no momento de elevação das águas, em períodos de chuvas excessivas.
Então, sim, a manutenção das barragens é uma medida eficaz. O trabalho dentro dos rios também ajuda, porque acelera a velocidade com que a água deixa os municípios no momento de elevação, auxiliando no fluxo da água.
Portanto, essas obras trazem, sim, resultados eficazes. Mas o grande resultado se dará com a conclusão do conjunto de todas as obras.

ALTO VALE ALERTA: Em termos práticos, o que ainda falta ser feito para que possamos, de fato, reduzir os impactos das enchentes na região? Se tivesse que apontar uma única prioridade para o governo estadual hoje na pauta das enchentes, qual seria?

GERRI CONSOLI: O licenciamento ambiental é o que mais se pode esperar e pedir para que o governo do estado entregue à população. É a partir dele que as obras efetivamente sairão do papel e que todo o conjunto poderá ser concluído.
É inaceitável a afirmação de que não há recursos, que não há dinheiro — isso precisa ser buscado. É igualmente inaceitável dizer que não existem projetos. Se não há projetos, que se façam; se há, que sejam executados. Existem projetos, existem caminhos, existem fontes de recurso.
Portanto, a prioridade hoje é o licenciamento ambiental.

ALTO VALE ALERTA: Como estão os avanços para construção das de novas barragens?


GERRI CONSOLI:
A construção das novas barragens, conforme anunciado pelo governo do estado, conta com duas já em fase de licitação. Algumas outras continuam em fase de tramitação documental, elaboração de projetos ou realização de estudos
Há também novos equipamentos planejados para municípios onde existe posicionamento contrário à construção dos barramentos — o que respeitamos.
Portanto, duas barragens estão sendo licitadas para saírem do papel, e, quanto às demais, o governo está trabalhando para encontrar caminhos por meio de novos projetos e equipamentos, para que, a partir do licenciamento ambiental, elas possam ser licitadas e, posteriormente, executadas.

ALTO VALE ALERTA: A mata ciliar ao longo do Rio Itajaí tem sido tema de debate entre preservação ambiental e necessidade de obras de contenção. Qual sua posição sobre o equilíbrio entre preservação ambiental e segurança da população? Existem planos para reflorestar as margens do rio Itajaí?

GERRI CONSOLI: A remoção das árvores invasoras, das espécies exóticas, das árvores que já estão mortas ou caídas dentro do rio, bem como de outros tipos de vegetação, como o bambu, que atrapalham o fluxo da água, é uma ação importante.
Sempre que falamos em remoção da vegetação nas margens do rio, também falamos, em conjunto, de um plano de replantio da vegetação adequada, aliado ao monitoramento constante para garantir que não haja interferência no equilíbrio da fauna e da flora locais.
Portanto, sim, sempre que se fala em remoção, também se considera um plano de conservação e de replantio.

ALTO VALE ALERTA: Como fiscalizar e cobrar efetivamente o uso de recursos públicos destinados às obras contra as enchentes, evitando que se transformem apenas em promessas eleitorais?

GERRI CONSOLI: Com a participação maciça da sociedade, das instituições e das associações. A presença ativa de todos, acompanhando e fiscalizando os poderes Executivo e Legislativo de cada município, tem um papel fundamental.
A AMAVI tem um papel importante, assim como as associações comerciais e as organizações da sociedade civil organizada. É responsabilidade de todos acompanhar essas ações. Sempre que uma obra ou um recurso for anunciado pelo governo, a sociedade precisa se mobilizar, junto com os poderes públicos, para que haja um controle efetivo da aplicação desse recurso no projeto anunciado ou no objetivo para o qual foi destinado.
Portanto, é com a proximidade e a participação de todos nós, junto ao governo, que conseguiremos monitorar a efetiva aplicação dos recursos e a execução das obras que são realmente necessárias.

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