O engarrafamento nos horários de pico e os incidentes constantes de caminhões altos batendo no túnel de acesso ao bairro Fundo Canoas transformaram essa situação em um problema crônico.

À primeira vista, a solução poderia parecer simples, mas, na prática, o entrave persiste há anos sem uma resposta definitiva. Essa dificuldade decorre, em grande parte, da falta de um estudo aprofundado e da ineficiência dos órgãos públicos responsáveis pelas intervenções viárias, aliada à ausência de vontade política para reavaliar o sistema.

Antes de presumir que a solução do problema seria “elevar a altura do túnel” ou “mudar seu formato de redondo para quadrado”, é essencial analisar a topografia, a arquitetura do sistema viário local e os fatores que contribuíram para o aumento de acidentes. Somente com um estudo aprofundado será possível propor soluções eficazes.

Problema 1 – O problema do congestionamento

O congestionamento é um problema que impacta diretamente a região e, para compreendê-lo melhor, é necessário analisar suas causas.

O túnel de acesso ao bairro Fundo Canoas também funciona como um cruzamento. Porém, este cruzamento sofreu alterações em relação à arquitetura de seu projeto original. Essas mudanças, infelizmente, acabaram resultando em um grande desastre.

Explicando melhor: o túnel conecta quatro vias, incluindo duas vias da BR-470 e duas vias da Estrada Boa Esperança. Porém as alterações na concepção inicial criaram desafios significativos na circulação, contribuindo para o agravamento do engarrafamento. Vamos analisar.

Tipos de cruzamento de 4 vias

Existem dois tipos principais de cruzamentos em rodovias estudados em Urbanismo: o Cruzamento em Trevo e o Cruzamento em Rotatória dupla.

O Cruzamento em Trevo

• Utiliza ramos em forma de laço para permitir conversões à esquerda, virando a direita e sem semáforos.
• Tráfego flui em níveis diferentes (viadutos e vias inferiores), ideal para lugares de alta velocidade.
• Sem paradas obrigatórias, exceto em situações de congestionamento.
• Exige muito espaço para ser implementado.

O Cruzamento de Rotatória Dupla

• Composto por duas rotatórias interligadas por uma via central que passa por baixo de um túnel.
• Tráfego da BR é direcionado para as rotatórias em ambos os sentidos, com entradas à direita.
• Veículos podem tanto entrar e sair dos bairros, quanto seguir em direção a BR.
• Ideal para áreas aonde o espaço é limitado (o nosso caso)

O que tinhamos em Rio do Sul?

Em Rio do Sul, antes de desfigurarem as ruas e o trânsito da Estrada Boa Esperança, tinhamos um modelo misto. Era uma rotatória de um lado (que foi destruida), e um laço para dar a volta no outro (que ainda existe).

Vamos analisar?

Lado Esquerdo

Do lado esquerdo (em relação a foto), tinhamos uma só rotatória.

Lado Direito

Do lado direito, um “laço” do modelo “trevo” para quem quer fazer a conversão vindo do bairro Fundo Canoas, em direção ao litoral.

Mas quais são os principais gargalos desse modelo misto?

Congestionamento

O problema do “laço” de retorno a BR em direção ao litoral começa, quando os veículos vindos do:

• Elevado José Thomé;
• Rua Wenceslau Borini;
• Rua Reinaldo Mezadri;

Se encontram, e depois se encontram novamente com os veículos vindos do:

• Bairro Fundo Canoas,
• Bairro Progresso;
• BR-470, que entram na rótula do Fundo Canoas e vem em direção ao túnel;

Todos esses veículos provenientes dessas 6 fontes se cruzam em pontos (destacados em amarelo no mapa abaixo) que causam congestionamento em horários de pico nesse laço.

Os carros se acumulam no mesmo local, em grande parte para fazer o contorno com o objetivo de entrar na BR-470 em direção ao litoral. Isso gera um gargalo na rua do “laço“ que dá acesso a BR-470.

Para resolver este problema, seria necessário fazer um acesso direto a BR-470 para os carros que vem do Elevado José Thomé, da Rua Wenceslau Borini e da Rua Reinaldo Mezadri, sem a necessidade de os veículos que vem dessas ruas, utilizarem este “laço” para dar a volta e entrar na BR.

O objetivo disso é evitar que os carros se acumulem todos nos pontos (que eu destaquei em laranja no mapa acima), deixando a passagem livre para quem vem dos bairros Fundo Canoas e Progresso fazerem o retorno em direção ao litoral (em verde), não disputando essa rua com outros diversos veículos.

Os pontos de encontro que eu destaquei em laranja no mapa anterior, não são só utilizados para quem quer fazer o contorno para ir em direção ao litoral na BR-470, mas para quem também quer acessar o Elevado José Thomé em direção ao Centro, ou acessar o bairro Canoas, causando mais gargalo ainda.

Então fazendo esta rua (em verde no mapa acima) de acesso a BR-470, antes do entroncamento de convergência do “laço”, iria diminuir muito o congestionamento no horário de pico neste ponto, fazendo com que menos carros disputem os locais destacados em laranja no mapa acima.

Problema 2: O problema de terem destruído a rotatória…

Como se não bastasse o congestionamento antes da entrada do túnel, ao lado direito do mapa, destruíram a rotatória.

Na época em que a rotatória existia, quem queria fazer o contorno para entrar na BR e ir em direção a Agronômica, poderia. Hoje não pode mais. Precisa entrar no bairro para fazer a volta. Isso causa ainda mais trânsito.

Como era antes:

Como é agora:

A administração anterior do município assumiu que era por conta da rótula que acontecia o engarrafamento na região, não pelo encontro dos veículos provenientes das ruas mencionadas anteriormente.

O resultado disso foi que erroneamente destruíram a rótula, que era muito útil e prática. Escoava os veículos com uma maior facilidade, distribuindo o trânsito antes de concentrar ele no bairro como é feito atualmente.

Problema 3: A construção do Brasil Atacadista

As administrações anteriores, por falta de análise profunda sobre o caso, resolveram destruir a rótula.

Toda essa mudança aconteceu pelo fato de que devido ao Brasil Atacadista ter se instalado no local, intervenções foram feitas no trânsito para beneficiar o mercado, as custas da comunidade.

Até uma rua foi criada exclusivamente para os veículos saírem na frente da entrada do novo estabelecimento, indicando claramente que o planejamento foi feito para beneficiar o mercado.

Como se não bastasse, autorizaram a construção do mercado sem planejamento correto, cometendo um gigantesco erro: jogar os caminhões que abastacem o mercado, para dentro do bairro. Agora precisam utilizar a rotatória da entrada do bairro Fundo Canoas, não se atentando ao problema de poluição sonora que isso acarreta para os moradores.

Destruíram a rótula, transferindo ela para dentro do bairro, levando um alto fluxo de veículos pesados a fazer a volta dentro do bairro para acessar a BR-470, criando cada vez mais condições para engarrafamentos (e problemas com o túnel).

O fluxo de caminhões aumentou muito no local, com caminhões manobrando o tempo todo não só para poder abastecer o mercado, bem como para entrar no bairro e fazer o contorno.

O trânsito na região se tornou um verdadeiro caos.

E é por conta deste contexto que surge o grande problema dos acidentes de caminhões batendo no túnel…

Problema 4: Os infinitos acidentes de caminhões batendo no túnel.

Quem é morador de Rio do Sul, sabe que antes de o mercado ter sido construído na região e antes de terem destruído a antiga rótula, eram raros os acidentes de caminhões batendo no túnel…

Ao invés ter sido feito um estudo para saber como evitar que os caminhões tivessem que entrar no bairro para fazer o retorno… A prefeitura não quis utilizar a rótula antiga de uma melhor forma, nem adequar o projeto do mercado a realidade do município.

Simplesmente, destruiu todo o projeto original e fez uma coisa grotesca no lugar, não só redirecionando o fluxo de veículos pesados para dentro de um bairro residencial, mas criando um problema que não existia: os acidentes de caminhões batendo no topo do túnel.

Neste link você pode ver os infinitos acidentes na página Rio do Sul Mil Grau.

Túneis Redondos para Caminhões Quadrados

O túnel, com 3,30 metros de altura está devidamente sinalizado, porém apresenta um formato redondo que engana os motoristas e frequentemente resulta em colisões de caminhões mais altos, especialmente nas quinas superiores.

Embora muitos sugiram que a solução seja o DNIT construir um túnel mais alto e quadrado, o problema vai além de uma simples modificação estrutural. Trata-se de um desafio mais amplo, que exige uma análise da infraestrutura viária da região.

Na verdade, o que a área precisa é de uma reorganização da malha viária para redirecionar o fluxo dos caminhões pesados para longe do túnel. Apesar de já terem sido instaladas placas de trânsito orientando os motoristas, essas medidas não surtiram efeito.

O trânsito intenso de caminhões de grande porte que utilizam o túnel para fazer o contorno em direção à BR-470 também impacta negativamente os moradores das áreas próximas a esse trajeto.

Portanto, a solução não está em ampliar ou alterar o túnel, mas sim em investir na construção de uma nova infraestrutura que possibilite o desvio desses caminhões diretamente para a BR-470, antes mesmo que os caminhoneiros considerem utilizar o túnel.

Isso beneficiaria não apenas os motoristas, mas também a qualidade de vida dos moradores locais.

Sinalização, Google Maps e a falta de atenção dos motoristas

Ao longo dos anos, a Prefeitura de Rio do Sul realizou várias tentativas para solucionar o problema relacionado ao túnel, com instalação de sinalizações indicando a altura máxima permitida para os caminhões. No entanto, essas medidas não foram eficazes em evitar os constantes acidentes envolvendo veículos de grande porte.

Atualmente, muitos caminhões, obrigados a contornar o bairro, acabam entrando no túnel em alta velocidade, frequentemente orientados apenas pelo Google Maps, que direciona os motoristas para essa rota. A falta de atenção às placas de sinalização de altura máxima tem agravado ainda mais a situação, resultando em acidentes que colocam em risco a segurança das pessoas que transitam pelo local.

Além disso, houve uma solicitação de intervenção ao DNIT, mas os resultados não foram satisfatórios. As medidas implementadas, incluindo barreiras para tentar redirecionar o tráfego pesado para a BR-470, acabaram gerando novos problemas, como danos aos veículos que utilizam a via diariamente. Tais ações, somadas às falhas de gestões anteriores, demonstraram ser soluções ineficientes e problemáticas.

Talvez seja necessário uma análise crítica do histórico de todas as intervenções realizadas na área para identificar o que deu errado e, a partir disso, desenvolver um plano viário realmente funcional e seguro para todos.

Caminhos para a Solução: Reestruturando o Fluxo Viário

Redirecionamento dos Caminhões Pesados

A solução não está em simplesmente ampliar ou modificar o túnel. O verdadeiro desafio é reconfigurar a malha viária para evitar que os caminhões pesados entrem na área crítica.

Proposta:

• Os caminhões que hoje chegam ao mercado Brasil Atacadista deveriam ser direcionados para utilizar a antiga rotatória como acesso direto à BR-470, em vez de serem jogados para dentro do bairro para fazerem o contorno. Já tentaram fazer isso, mas sem algo que fique na frente do túnel (uma rotatória por exemplo) os caminhões tendem a passar reto e entrar em choque com a estrutura de túnel.

• Para isso, o Brasil Atacadista precisaria criar um acesso exclusivo em frente à antiga rotatória, e a Prefeitura de Rio do Sul deveria reconstruir essa estrutura, possibilitando um fluxo de trânsito organizado e seguro.

O Exemplo da Rotatória Dupla de Indaial

A rotatória dupla de Indaial é um caso de sucesso em infraestrutura viária e serve de inspiração para a reestruturação do trânsito em Rio do Sul.

• Pontos positivos do modelo de Indaial:
  • Melhora o fluxo de veículos em áreas de tráfego intenso.
  • Reduz congestionamentos
  • Aumenta a segurança para motoristas e pedestres com a colocação de calçadas e faixas de pedestres.
  • Demonstra que, com planejamento adequado e execução integrada, é possível transformar radicalmente de forma positiva o trânsito urbano.

Lições Aprendidas

Para que a reestruturação seja eficaz, é fundamental:

• Realizar Estudos Detalhados:
  • Analisar minuciosamente o fluxo viário, a topografia e os pontos críticos de congestionamento.
  • Analisar o trânsito proveniente das ruas de antes do acesso ao túnel e se elas estão provocando trânsito.
• Desenvolver Parcerias Público-Privadas:
  • Incentivar o diálogo entre a Prefeitura, o DNIT, o Brasil Atacadista e a comunidade, para que as intervenções atendam às reais necessidades da população.
• Requalificar Infraestruturas Existentes:
  • Preservar ou reestruturar a antiga rotatória, que se mostrou uma ferramenta eficiente para a circulação, em vez de destruí-la sem uma justificativa técnica fundamentada.
  • Adicionar uma nova rotatória.
  • Provavelmente desapropriar casas para fazer a duplicação da BR e as rotatórias.
• Utilizar Tecnologias de Gestão de Tráfego:
  • Implementar sistemas de monitoramento e sinalização inteligentes que possam ajustar o fluxo em tempo real, evitando que os motoristas dependam exclusivamente de aplicativos de navegação.

Conclusão

A situação caótica enfrentada por Rio do Sul, com congestionamentos intensos e frequentes acidentes no túnel de acesso ao bairro Fundo Canoas, não tem solução mágica se baseando apenas em modificações estruturais superficiais.

Inspirar-se em casos de sucesso, como o da rotatória dupla de Indaial, e repensar o fluxo dos veículos pesados por meio de um planejamento integrado e fundamentado em estudos, pode transformar o cenário atual.

Redirecionar os caminhões para a BR-470, por meio da criação de um acesso exclusivo e a requalificação e reconstrução da antiga rotatória, não só reduzirá o congestionamento, como também vai diminuir o fluxo de veículos pesados dentro do bairro, preservando também a qualidade de vida dos moradores e a segurança de todos os usuários das vias.

Esse é o caminho para que Rio do Sul possa reverter anos de intervenções equivocadas e construir uma infraestrutura viária verdadeiramente funcional e eficiente para seus cidadãos.

Se você quiser se aprofundar sobre esta questão, convido você assistir o vídeo abaixo:

E você? O que acha que deve ser feito?

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