Nos últimos anos, o termo “fake news” evoluiu de um conceito desconhecido até então, para uma verdadeira máquina de controle da informação, com implicações profundas na dinâmica da comunicação e na sociedade contemporânea. O termo que aparentemente foi criado para descrever notícias falsas disseminadas através das redes sociais, explodiu após Donald Trump utilizá-lo para responder a um jornalista inconveniente, a palavra ‘fake news’ cresceu exponencialmente, mas logo o vocábulo passou a ser instrumentalizado por atores da mídia tradicional, tornando-se um recurso poderoso no manejo da opinião pública e na manipulação das narrativas.
De fato, “fake news” se tornou sinônimo de um campo de batalha ideológico, onde a verdade se submete às conveniências dos poderes estabelecidos, nas mídias tradicionais, e onde a acusação de desinformação serve para silenciar vozes dissidentes e, muitas vezes, destruir reputações.
O cenário midiático atual, marcado pela proliferação de agências de checagem e “selos de verificação”, exemplifica o jogo de interesses em torno da informação. Em um movimento aparentemente altruísta, veículos de comunicação criaram suas próprias ferramentas de fiscalização das notícias, impondo uma verdade oficial que, em muitos casos, não se coaduna com a realidade. Estas agências de checagem, longe de serem imparciais, muitas vezes se mostram falhas em suas análises, contribuindo, ao contrário do que se espera, para a difusão de desinformação. O efeito desse processo é a construção de uma atmosfera de desconfiança generalizada, onde o público fica à mercê de um sistema de verificação que, por vezes, distorce o sentido original dos fatos, em um jogo de manipulação de massas.

O histórico de instrumentalização da desinformação não é novo. Em 1994, o Brasil assistiu a um dos casos mais emblemáticos de destruição de reputações e vidas pela mídia: o caso da Escola Base. Em um episódio que remonta a uma época de sensacionalismo jornalístico, um casal de proprietários de uma creche privada foi injustamente acusado de abusos sexuais contra crianças, sendo alvo de uma verdadeira cruzada midiática. A cobertura irresponsável e apressada da imprensa não apenas destruiu a credibilidade dos envolvidos, como também arruinou suas carreiras e suas existências, antes que qualquer evidência concreta fosse apresentada. O caso, que foi tema do livro “Caso Escola Base – Os Abusos Da Imprensa” de Alex Ribeiro, tristemente, exemplifica como a mídia pode ser usada como uma arma de controle, onde a busca pela audiência e pela verdade cede espaço para a disseminação de narrativas sem fundamentação, alimentadas pelo frenesi jornalístico.
A partir desse cenário, podemos refletir sobre a crescente utilização da desinformação como ferramenta ideológica, uma tática que vai além da simples manipulação de informações. A Infowar — guerra de informação — tornou-se uma prática comum entre grupos políticos, movimentos e até grandes corporações, que se valem de “palavras gatilho” para incitar reações emocionais no público. Termos como “ataque”, “ciência”, “democracia”, entre outros, são empregados de forma distorcida, desprovida de seu conteúdo original, para criar um ambiente de histeria coletiva. Tais palavras, usadas de maneira descontextualizada e sensacionalista, têm o objetivo claro de mobilizar sentimentos de raiva, medo e indignação, manipulando o leitor de maneira eficaz e muitas vezes sutil.
Este fenômeno contribui para um ciclo vicioso no qual a própria definição de “verdade” é continuamente questionada, e onde o discurso da desinformação se alimenta da retórica emocional e polarizadora. A verdadeira tragédia desse cenário é que, no contexto da desinformação, os conceitos de liberdade, democracia e até mesmo ciência tornam-se cascas vazias, instrumentos de manipulação em vez de ideais que deveriam promover o debate saudável e a busca pela verdade.
Portanto, ao refletirmos sobre a evolução do termo “fake news”, percebemos que não estamos apenas lidando com um simples combate à mentira, mas com uma luta pela posse da verdade. Em um mundo saturado de informações, a batalha pela narrativa — e pela maneira como ela é moldada, veiculada e consumida — se tornou mais crucial do que nunca. E a lição que fica, tanto do caso Escola Base quanto da manipulação ideológica que vemos hoje, é que a responsabilidade da informação deve ser compartilhada por todos, mas, principalmente, pelas instituições de mídia, que têm o poder de influenciar as mentes e os destinos de indivíduos e coletivos. E acima de tudo, reina a defesa pela liberdade de informação. Que vem sendo vilipendiada diariamente em nosso país.