Por um comentarista que ainda acredita que engenharia deveria obedecer às leis da física e ao bom senso.
RIO DO SUL — Ao final de seus nobres oito anos de mandato, o ex-prefeito José Thomé nos brindou com uma obra de proporções épicas — não por sua grandeza, mas por sua absurda desconexão com a realidade. Com pompas de gestor visionário, Thomé entregou à cidade uma ponte inacabada, estrategicamente posicionada em lugar algum, que não leva a coisa nenhuma, a não ser ao riso nervoso dos engenheiros e ao desespero dos contribuintes.
A tal ponte – fica entre os bairros Canoas e Budag – que mais parece um monumento à má gestão, foi concebida com um “pequeno” problema técnico: sua elevação não bate com o nível da rua no bairro Canoas. Um detalhe, diriam os mais otimistas. Um erro grotesco de planejamento, diriam os que ainda não perderam o contato com o chão — literalmente.
Foram consumidos R$ 4 milhões do erário para que a cidade ganhasse um elefante (branco) de concreto, elevado ao ponto de não conseguir descer. Para completar o enredo tragicômico, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) revelou que nunca foi consultado sobre a construção que poderá afetar futuras ampliações do trecho, pois a obra interfere diretamente em uma possível duplicação da BR-470, o que significa que o “legado” do ex-prefeito pode agora ser um entrave para o futuro da região. Justamente ele, que se dizia defensor da famigerada rodovia.
O novo orçamento para corrigir o estrago e, quem sabe, tornar a ponte funcional — ou pelo menos transitável — poderá ultrapassar os R$ 30 milhões. Sim, a ponte que não serve para nada, agora custa quase dez vezes mais para talvez servir a alguma coisa. Um feito digno dos melhores capítulos do surrealismo administrativo. O novo secretário da infraestrutura alerta em entrevista cedida ao GDC na manhã desta terça-feira, que caminhões de grande porte terão dificuldades no acesso.
Enquanto a cidade tenta entender como alguém desenha uma ponte que não se conecta com uma rua, o ex-prefeito Thomé circula pelo estado de Santa Catarina em périplo eleitoral, talvez em busca de novos terrenos para obras flutuantes — ou de eleitores com memória curta. Há quem diga que ele sonha com voos mais altos; esperamos, sinceramente, que ao menos aprenda a pousar.
A população de Rio do Sul, essa sim, permanece com os pés no chão — e sem ponte para atravessar.
O atual governo, sob a gestão de Manoel Pereira, comunica que serão apresentadas três propostas de solução para a possível conclusão da obra. Agora é esperar para sentir no bolso, o peso de más decisões administrativas no setor público pago com seu dinheiro.