Por Dr. Willian Mateus Lehmann Ledra, Advogado Especialista em Direito Ambiental e Pós-graduando em Administração Pública e Gerência de Cidades
Em Rio do Sul, uma cidade marcada pelo trabalho árduo e pela energia do Alto Vale do Itajaí, há um inimigo sutil que corrói nosso potencial: a poluição sonora. Não é apenas o ronco das motos barulhentas rasgando a Oscar Barcelos ou as caixas de som que estremecem as janelas dos bairros da cidade. É algo mais grave: o impacto desse barulho no desenvolvimento humano, na convivência e na essência de nossa comunidade. Como gestor, questiono: até quando permitiremos que o ruído sufoque o silêncio, a beleza e a dignidade que merecemos?
Roger Scruton, em Beleza (2009), escreveu: “A feiura não é apenas uma questão estética; é um ataque à moralidade, uma rejeição ao que nos eleva como seres humanos.” O barulho, para ele, é uma feiura sonora – uma desordem que polui o espaço comum e nos rouba a capacidade de pensar e conviver em paz. Em Rio do Sul, onde o burburinho das padarias poderia ser um som acolhedor e o Calçadão um lugar de encontro tranquilo, somos frequentemente assaltados por escapamentos alterados e graves ensurdecedores. Que futuro estamos construindo ao tolerar essa cacofonia?
Barulho, Pobreza e Desenvolvimento
Lugares barulhentos raramente prosperam. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que ruídos acima de 55 decibéis – comuns em ruas tomadas por motos e carros tunados – afetam a saúde, elevando o estresse, a hipertensão e o risco de depressão. Mas o prejuízo vai além: o barulho sabota o desenvolvimento humano. Imagine o estudante do bairro Santana tentando estudar enquanto o vizinho exibe sua caixa de som. Para muitos, o aprendizado já é uma luta contra a falta de tempo ou recursos; o ruído torna-se uma barreira extra, sufocando o sonho de um futuro melhor.
Alain de Botton, em As Consolações da Filosofia (2000), defende que o silêncio é essencial para a reflexão e o crescimento pessoal. Sem ele, perdemos a chance de nos ouvir – e, consequentemente, de nos aprimorar. Em áreas como Canoas, Barragem e Santana, onde há mais reclamações de barulho, não é surpresa que problemas econômicos estejam associados a esse problema. O ruído inibe a educação, mata a criatividade e rouba a paz necessária para uma comunidade avançar. Estamos dispostos a sacrificar o progresso de nossos jovens por causa dessa desordem sonora?
Sujeira Sonora e Visual: A Pichação
O barulho não vem sozinho; ele frequentemente se alia à feiura visual, como a pichação que mancha muros e prédios em Rio do Sul. Scruton, em Como Ser um Conservador (2014), via na degradação do espaço público um sinal de desrespeito moral. Assim como o som alto imposto por motos ou carros reflete egoísmo, a pichação é um grito de desordem, um ataque ao belo e ao comum. Nas diversas ruas da cidade, onde poderíamos admirar uma Rio do Sul limpa e vibrante, rabiscos sem sentido competem com o ruído para nos lembrar que o descaso prospera onde falta cuidado individual com o coletivo. Não seria hora de tratar essas duas formas de poluição – sonora e visual – como sintomas do mesmo problema?
Um Reflexo Moral
A OMS estima que o ruído do tráfego cause milhares de mortes prematuras por doenças cardíacas na Europa. Em Rio do Sul, os efeitos se manifestam nas conversas nas padarias ou nas filas dos postos de saúde: noites mal dormidas, nervos à flor da pele, cansaço sem explicação. Quando alguém acelera uma moto barulhenta ou liga um som estrondoso, está dizendo que seu desejo vale mais que o sossego alheio. É uma sujeira moral, uma poluição que degrada nossa convivência. O que isso revela sobre nós como sociedade?
Um Chamado ao Silêncio e à Beleza
Rio do Sul merece mais. Precisamos de políticas que façam valer as normas do CONAMA contra ruídos excessivos, punindo quem altera escapamentos ou abusa de caixas de som. Mas a mudança vai além da lei: é cultural. Por que não criar zonas de tranquilidade nos bairros? Por que não ensinar nas escolas o valor do silêncio e do respeito pelo espaço alheio? Scruton nos lembra que a beleza – na ordem, na limpeza, na quietude – eleva o espírito. Imagine um Calçadão onde o som seja de passos e conversas, não de lojas com caixas de som que invadem a rua ou vendedores ambulantes com JBLs rugindo; padarias onde o aroma do pão não dispute com a poluição sonora.
Como gestor, faço um apelo: resgatem o silêncio como um direito, a beleza como um dever e a moralidade como um guia. Que Rio do Sul seja exemplo de uma cidade que escolhe a dignidade da quietude sobre a feiura do barulho. Pergunto a você, cidadão: o que queremos legar – a desordem ou a harmonia? A resposta está em nossas mãos – e em nossos ouvidos.